
Sargento da reserva da PM atendeu a ocorrência junto a colegas e contou ao G1 que, mesmo com preparo para situações adversas, cenário chocou e o levou a reflexões. Militar aposentado reforça que crime marcou familiares e toda a região Um terreno coberto por pastagem, distante da área urbana e abaixo dos limites do Cemitério Municipal de Teodoro Sampaio (SP) virou palco de uma história violenta e com uma interrogação no final. Em 3 de julho de 2001, cinco jovens com idades entre 17 e 23 anos foram encontrados mortos na área de uma fazenda, já próximo a uma mata ciliar às margens de um pequeno córrego, e o cenário marcou a vida não só dos familiares das vítimas, mas de toda a região do Oeste Paulista. Carlos Henrique de França, Wilson Alves da Silva, Lucylene Medeiros de Souza, Lucicleide de Lima Souza e Jaqueline dos Santos Zacarias foram encontrados pelo administrador da fazenda, que foi até a Delegacia da Polícia Civil comunicar o fato. Na sequência, por volta das 14h, os agentes acionaram a Polícia Militar. Os corpos estavam de bruços, a aproximadamente 100 metros de distância um do outro, dispostos em “meia lua” e na mesma posição – com as cabeças voltadas para cima. À época soldado da PM, Ricardo Aparecido Santos, hoje com 49 anos, foi um dos militares que atuaram no atendimento da ocorrência. Atualmente sargento da reserva, ele relatou ao G1 que, em 30 anos de serviço, este foi o caso mais marcante na sua carreira policial devido a tamanha violência. “Pessoalmente, foi chocante. São vidas. Você mexe com vidas e atrás dessas vidas têm famílias, têm pais, têm mães, às vezes filhos, uma delas tinha dois filhos. Então, além das pessoas que morreram ali, têm as famílias delas e você ver ali, como que foi cruel a forma que eles morreram, choca. Choca qualquer um, na verdade”, destacou. À época soldado da PM, Ricardo Aparecido Santos foi um dos militares que atenderam a ocorrência Stephanie Fonseca/G1 ‘O que aconteceu aqui?’ Conforme contou Santos ao G1, os policiais foram àquela área com as pessoas que localizaram os corpos. “O cenário era o seguinte: tinha cinco corpos, três estavam mais abaixo, próximo a um córrego, um riozinho, formando uma linha, e dois corpos um pouco mais para cima. Todos eles estavam de barriga para baixo e, como tinha um certo declínio no terreno, todos os cinco corpos estavam virados para cima”, descreveu. Área de uma fazenda atrás do Cemitério Municipal de Teodoro Sampaio foi cenário do crime Stephanie Fonseca/G1 Ele comentou que, a partir de então, foi realizado o trabalho da Polícia Militar, sendo o isolamento da área a ação inicial. Em seguida, chegou também a Polícia Civil, que tomou o controle da situação. “A gente chega no local e é um negócio que choca, que é meio impressionante. Você vê uma cena daquela, cinco pessoas mortas da forma que foi, todas elas com golpes de facão no pescoço e alguns no corpo, então choca todo mundo”, lembrou ao G1 o policial da reserva. Santos destacou que, ao se deparar com aquela situação, sem saber de fato o que pode ter acontecido, começam a “surgir” algumas maneiras para tentar explicar o crime. “A gente começa a conversar, começa a tentar levantar ali no mesmo momento, mas é quase que impossível chegar numa conclusão, só mesmo depois através da investigação”, disse. “A gente viu os corpos e em primeiro momento pensou: ‘Será que foi uma briga que ocorreu aqui?’, ‘Será que teve um desentendimento entre eles?’, ‘Tinha mais pessoas?’, ‘Quantas pessoas tinham mais aqui?’, ‘Será que tinham mais pessoas, se desentenderam e as que estavam junto com eles acabaram cometendo esse crime?’”, lembrou ao G1. Também surgiram perguntas norteadas por uma segunda hipótese. “‘Será que eles estavam aqui fazendo algum ritual?’, próximo do cemitério, pela forma que estavam os corpos, todos iguais, todos de barriga pra baixo, cabeça para cima, em formato de lua, digamos assim, três em linha e dois em cima, ‘Será que foi um ritual macabro, um sacrifício, uma coisa assim?’. São hipóteses que a gente imagina, que a gente pensa”, comentou. Delegacia da Polícia Civil de Teodoro Sampaio investigou a chacina Stephanie Fonseca/G1 Reflexão “Um crime que chocou não só a mim, não só a polícia, não só os familiares, mas a cidade e a região toda e pelo que eu me lembro não teve outra situação dessa parecida na nossa região. Então, foi um ato, uma coisa que aconteceu, que marcou todo mundo”, avaliou Ricardo Aparecido Santos. O sargento da reserva ainda declarou que os policiais são preparados para atender ocorrências no dia a dia e lidar com situações adversas. “Mas é uma coisa que marca e marcou na época, e continua marcando, porque não tem como você apagar isso da memória. Isso aí ficou marcado na minha vida com certeza”, declarou Santos ao G1. Com a “marca”, Ricardo passou a lidar com uma visão diferente sobre a vida. “Cada vida daquela ali tem uma família e você vê uma situação daquelas e começa a refletir. ‘O que levou esses jovens a estarem ali?’, ‘O que levou a isso, de fato?’, e ‘Por que aconteceu isso com eles?’. E você começa a refletir como pessoa, no pessoal, você fala: ‘Nossa, tenho que mudar minha vida, fazer melhor na minha vida, fazer melhor na vida das pessoas que estão comigo, fazer melhor na vida da minha família’. Nós somos falhos, né? O ser humano é falho, tem que estar buscando a cada dia melhorar, e isso faz refletir bastante e fez refletir bastante”, destacou. Santos afirmou que para ele, pessoalmente, foi difícil se deparar com aquela situação, pensar naquelas pessoas e imaginar as famílias delas. “As famílias querem Justiça desde o primeiro dia até hoje. Não foi de fato concretizado e solucionado esse crime. As famílias precisam ter esse esclarecimento, apesar de terem passado muitos anos, porque causou uma dor muito grande em cada uma delas, em pais, mães, filhos de uma das vítimas que hoje já são pessoas adultas, fica marcado na vida de todo mundo. Fica esse ponto de interrogação na vida deles”, finalizou. Acionamento Por meio da Lei de Acesso à Informação, a Polícia Militar esclareceu ao G1 que foi acionada em 3 de julho de 2001, por volta das 14h, através da Polícia Civil, já que o administrador da fazenda foi até a delegacia. A solicitação informava aos militares sobre pessoas que haviam sido encontradas assassinadas. Não havia a identificação dos autores nem tampouco localização das armas utilizadas no crime. Segundo a corporação, quando a PM chegou ao local, encontrou os corpos de cinco pessoas, “dispostas em círculo e na mesma posição, distantes aproximadamente 100 metros uma das outras”. Os policiais fizeram o isolamento do local e buscas por possíveis materiais ou provas para o caso, bem como o registro dos fatos em Boletim de Ocorrência. “A Polícia Civil estava no local e acionou a perícia. Os corpos foram encaminhados para o Hospital de Teodoro Sampaio”, explicou ao G1. “Houve o trabalho de isolamento do local, havendo na época muitas pessoas que se dirigiram para o local, motivadas pela grande comoção ante a gravidade da ocorrência, exigindo o empenho da Polícia Militar em manter o local isolado para não prejudicar os trabalhos da perícia”, explicou a corporação. Questionamento Em entrevista ao G1, a mãe de uma das vítimas questionou a eficiência do isolamento policial da área onde os corpos foram encontrados. Sobre a situação, o 8º Comando de Policiamento do Interior (CPI-8) declarou que a Polícia Militar “é uma instituição legalista, compromissada com o cumprimento rigoroso das leis e normas vigentes”. “Neste sentido, salienta que, apesar das dificuldades encontradas pelos policiais militares para o atendimento da ocorrência em questão, em virtude da quantidade de pessoas que se dirigiram ao local motivada pela comoção diante da gravidade do fato, da extensa área mediata e imediata a ser preservada, tratando-se de local externo em área rural, foram acionados os apoios das demais Unidades de Serviço e utilizados todos os recursos para o isolamento do local de crime, mantendo-se inalterado o estado e disposição do corpo de delito [conjunto de vestígios de um crime], buscadas informações que pudessem contribuir para o esclarecimento do ocorrido, acionadas as autoridades competentes e realizado o devido registro dos fatos para as providências de Polícia Judiciária”, esclareceu. Prevenção Como forma de prevenir e reprimir a prática de crimes violentos, bem como delitos usuais, o CPI-8 informou que se faz presente diuturnamente nos 67 municípios das regiões de Presidente Prudente (SP), Dracena (SP), Assis (SP) e Presidente Venceslau (SP), por meio de seus programas de policiamento. Também informou que são desenvolvidas várias ações como as operações “São Paulo Mais Seguro” e, mais recentemente, a “Paz e Proteção”, com reforço no policiamento ostensivo. Há ainda a “Operação Divisa” e a “Operação Rodovia Mais Segura” com o objetivo de intensificar a fiscalização sobre veículos que trafegam nas rodovias de acesso ao Estado de São Paulo e coibir a prática de ilícitos penais, infrações de trânsito e ambientais. Com ferramentas inteligentes e “constante mapeamento dos indicadores criminais”, o CPI-8 direciona o policiamento para pontos sensíveis previamente definidos, atuando de forma integrada com a Polícia Civil, Ministério Público, Poder Judiciário, Prefeituras, demais órgãos e contando também com a colaboração do cidadão de bem. “O CPI-8 tem intensificado sua produtividade policial, inclusive com o aumento significativo do número de armas de fogo apreendidas, das pessoas presas em decorrência de mandados de prisão e das prisões efetuadas, segundo as estatísticas recentemente divulgadas pela Secretaria de Segurança Pública”, acrescentou ao G1. Área de uma fazenda atrás do Cemitério Municipal de Teodoro Sampaio foi cenário da chacina Stephanie Fonseca/G1 VÍDEOS: Tudo sobre a região de Presidente Prudente Veja mais notícias em G1 Presidente Prudente e Região.
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