
Primeiro agente a presidir apuração da chacina em Teodoro Sampaio relata poucos elementos para dar início às investigações policiais. Inquérito foi arquivado por falta de provas para autoria e motivações. Delegado licenciado Luciano Carneiro de Paiva fala sobre apuração da chacina em T. Sampaio Três de julho de 2001. As polícias são acionadas para atenderem a uma violenta ocorrência que marcaria a vida dos moradores de Teodoro Sampaio (SP), no extremo oeste do Estado de São Paulo. Desde a ocasião, investigadores da Polícia Civil se debruçaram para tentar descobrir a autoria e as circunstâncias das mortes dos cinco jovens, com idades entre 17 e 23 anos. Contudo, o caso foi arquivado pelo Poder Judiciário sem autoria e motivação comprovadas. Carlos Henrique de França, Wilson Alves da Silva, Lucylene Medeiros de Souza, Lucicleide de Lima Souza e Jaqueline dos Santos Zacarias foram encontrados pelo administrador de uma fazenda, que foi até a Delegacia da Polícia Civil comunicar o fato. Na sequência, por volta das 14h, os agentes acionaram a Polícia Militar. O primeiro delegado a presidir as investigações foi Luciano Carneiro de Paiva, atualmente licenciado do cargo e secretário municipal de Segurança em Cabreúva (SP). Ele lembrou ao G1 que as vítimas estavam no campo que ficava próximo ao Cemitério Municipal de Teodoro Sampaio e as “primeiras notícias recebidas eram de que esses jovens gostavam de frequentar o cemitério e acabaram mortos ali naquele local” (veja acima a entrevista na íntegra). “Infelizmente, devido ao lugar onde as vítimas estavam, que é um lugar ermo, nós tivemos muito poucos elementos pra iniciar a investigação, o que dificultou bastante o trabalho nosso”, declarou Paiva ao G1. O delegado licenciado ainda contou que o caso “causou bastante comoção na cidade e a Polícia Civil teve um empenho bastante grande também durante a investigação tentando buscar os autores desses crimes que foram bem graves”. Além da distância e do horário do crime, possivelmente praticado durante a madrugada, houve a dificuldade de que não havia câmeras de segurança e equipamentos mais avançados, como existem hoje para monitoramento. Outro fator que pesou, segundo o delegado licenciado, foi o silêncio das pessoas que poderiam ter testemunhado algo, “o que é normal em crimes violentos”. Na atualidade, com o avanço da tecnologia de monitoramento, a polícia teria uma chance maior de elucidar os fatos, conforme comentou ao G1 o delegado licenciado. Frustração “Lembro que fiquei muitas noites sem dormir, não só eu, como a equipe, tentando chegar a algum ponto que pudesse levar ao esclarecimento desse crime. A Polícia Civil trabalhou muito em cima desse caso, mas infelizmente não conseguimos elucidar”, disse Paiva. O caso acabou arquivado e gera uma “frustração”. “Nós, como investigadores, como profissionais da investigação, a gente sempre busca o melhor, conseguir chegar aos autores, e quando a gente não consegue, o que também não é uma coisa fora do comum, muitos crimes a gente não consegue chegar à autoria, a gente fica com um sentimento de frustração, é uma coisa normal do policial”, afirmou ao G1. Paiva ainda comentou que os agentes são preparados psicologicamente para o caso de não alcançarem resultados positivos e foi preciso entender que várias situações dificultaram a elucidação, como o local do crime, o horário e a falta de monitoramento. Choque Ao G1, o hoje secretário municipal de Segurança revelou que em 30 anos de carreira passou por muitas situações adversas, mas que esse crime foi um dos que mais o chocaram devido à violência. “Porque cortaram o pescoço das vítimas, isso chamou bastante a atenção e nos preocupou bastante. Uma violência bem grande”, declarou. "O policial é um ser humano. É claro que isso choca, só que, como a gente tem um preparo pra tratar desses assuntos, a gente acaba não sofrendo tanto impacto como uma pessoa comum. Nós temos um treinamento para atender esse tipo de ocorrência. Claro, somos seres humanos e todo crime grave acaba nos afetando, mas o preparo que nós temos na academia de polícia nos leva a ter um controle emocional maior quando a gente se depara com crimes violentos”, esclareceu. Ensinamento Ainda foi comentado por Paiva que muitos falam de erro da polícia quando não há um resultado positivo durante uma investigação criminal. “Eu acompanhei desde o início o trabalho da Polícia Civil. A preservação do local foi perfeita, o pessoal fez uma preservação muito boa, os peritos se debruçaram no trabalho, os policiais civis se esforçaram muito na tentativa de elucidar, mas infelizmente não conseguimos o nosso objetivo que era justamente descobrir os autores. A gente acredita que não foi só um autor devido à complexidade da cena do crime. Mas quero deixar claro que a Polícia Civil se esforçou bastante e, infelizmente, a gente não conseguiu ainda chegar aos autores”, afirmou ao G1. “A gente lamenta muito o que aconteceu. Fica um ensinamento também pra todos nós. A gente tem que tomar muito cuidado com nossos adolescentes, nossos jovens, cuidado mesmo, saber onde estão andando, com quem estão andando, fazer um monitoramento familiar pra sabe onde esses jovens estão frequentando e com quem estão frequentando. Isso é muito importante. Não estamos colocando a culpa em ninguém, isso foi uma fatalidade, infelizmente vidas se perderam e a gente lamenta muito, e creio que a Polícia Civil ainda pode até um dia conseguir chegar a esses autores. Claro que com o tempo passado fica mais difícil, mas a gente fez o que pôde em relação a esse caso”, finalizou Paiva. Crime foi investigado pela Delegacia da Polícia Civil de Teodoro Sampaio Stephanie Fonseca/G1 Investigações, mobilização e arquivamento O delegado Everson Aparecido Contelli, porta-voz do 8º Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter-8), informou ao G1 que a Polícia Civil investigou os fatos que resultaram na morte dos cinco jovens, cujos corpos foram localizados por volta de 11h30, no dia 3 de julho de 2001, em uma fazenda, na área rural de Teodoro Sampaio. As investigações ocorreram por meio da instauração do inquérito policial nº 117/2001, na Delegacia da Polícia Civil de Teodoro Sampaio, por onde tramitou, inicialmente, sob a presidência do então delegado Luciano Carneiro de Paiva. O trabalho também envolveu levantamentos realizados pelo Instituto de Criminalística (IC) e pelo Instituto Médico Legal (IML). A causa de todas as mortes tem relação com traumatismo cranioencefálico em decorrência de ação provocada por instrumento contundente. Durante as investigações, chegou a existir indicação oficial de autoria dos crimes, conforme anunciado à época. Contelli lembrou ao G1 que a revelação de autoria “se deu pelo esgotamento das técnicas de investigação (levantamento de local, análise pericial, coleta de elementos subjetivos e objetivos etc.), inclusive complementado por depoimentos e interrogatórios”. “As prisões ocorreram por representação ofertada pela Polícia Civil, porém, as cautelares, depois de deferidas, foram revogadas pelo Poder Judiciário, conforme fundamentação em cada um dos casos”, disse. O delegado apontou que os últimos trabalhos foram encerrados em 8 de agosto de 2013, ou seja, o caso foi arquivado. Ele explicou que o arquivamento “é a suspensão das investigações enquanto uma ou algumas teses de autoria não encontraram a devida comprovação”. “Mesmo após o arquivamento, a Polícia Civil representou pelo desarquivamento e continuou a trabalhar, sempre com a perspectiva de esclarecer completamente os fatos e prestar a devida sensação de Justiça à sociedade”, declarou ao G1. De acordo com Contelli, todo o período de investigações do caso envolveu 87 agentes do Estado, entre delegados de polícia, juízes de direito, promotores de Justiça e policiais civis. “Certamente as novas tecnologias e técnicas atuais de investigação criminal poderiam ter contribuído para um maior avanço das investigações”, colocou. O inquérito policial encontra-se judicializado e em arquivo do Poder Judiciário paulista. Área de uma fazenda atrás do Cemitério Municipal de Teodoro Sampaio foi cenário do crime Stephanie Fonseca/G1 Laudos Ao G1, a Polícia Científica, por meio da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), informou em nota que “os laudos solicitados pelo delegado que presidiu as investigações foram anexados ao inquérito”. Resultados não são comentados pela corporação. “Diversas diligências, incluindo trabalho de campo, foram realizadas, incluindo apurações solicitadas pelo Ministério Público, mas não houve o esclarecimento da autoria. Em agosto de 2013, o Poder Judiciário decidiu pelo arquivamento do caso”, encerrou. VÍDEOS: Tudo sobre a região de Presidente Prudente Veja mais notícias em G1 Presidente Prudente e Região.
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