
Marcelo Creste foi o primeiro membro do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP) a atuar na apuração da chacina que completa 20 anos em 2021. Promotor de Justiça Marcelo Creste fala sobre apuração da chacina em Teodoro Sampaio "Às vezes, eu me pego pensando nesse caso, as nossas falhas, onde foram as nossas falhas, o que poderia ter sido diferente". A afirmação é do promotor de Justiça Marcelo Creste. Ele foi o primeiro membro do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP) que atuou nas investigações da chacina que vitimou cinco jovens em Teodoro Sampaio (SP). Mesmo depois de duas décadas, ele diz que o caso, que terminou arquivado pelo Poder Judiciário, traz o sentimento de frustração. “É um caso que jamais poderia passar sem descobrir quem foram os assassinos", lamenta. Ele conversou com o G1 sobre a apuração do crime (assista ao vídeo acima). Na época, o promotor respondia por Teodoro Sampaio e permaneceu no caso até 2004. Creste relembrou que o assassinato das vítimas de uma forma tão brutal foi recebido com espanto pela população da cidade, que tinha pouco mais de 21,3 mil habitantes, conforme o Censo realizado em 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os corpos de Carlos Henrique de França, de 20 anos, Wilson Alves da Silva, de 19 anos, Lucylene Medeiros de Souza, de 23 anos, Lucicleide de Lima Souza, de 17 anos, e Jaqueline dos Santos Zacarias, de 20 anos, foram encontrados em uma fazenda próxima ao Cemitério Municipal de Teodoro Sampaio, no dia 3 de julho de 2001. "O assassinato de cinco jovens sem qualquer envolvimento criminoso, jovens sem qualquer antecedente, sem qualquer passado ligado à Justiça Criminal nos chocou. E o Ministério Público acompanhou o trabalho da Polícia Civil apoiando, na maioria dos casos, algumas diligências que precisavam de autorização judicial, interceptação telefônica, busca e apreensão, prisão preventiva, prisão temporária, acompanhou alguns depoimentos também. Foi assim o trabalho do Ministério Público, dando algumas ideias para a Polícia Civil", falou. Chacina em Teodoro Sampaio completa 20 anos em 2021 Reprodução/TV Fronteira 'Mil e uma hipóteses' Creste ainda frisou que houve várias dificuldades nas investigações do caso. "As dificuldades eram essas: eram jovens que não tinham qualquer antecedente criminal, ou seja, qual o motivo de uma eventual vingança, represália, o local ermo próximo ao cemitério, sem testemunhas, distância, sem também sinais que permitissem seguir algumas pistas. O que atrapalhou um pouco esse caso foram os acasos que foram surgindo, digamos assim. Um suspeito de Itaguajé [PR] que poderia ter participado e depois uma outra linha de investigação", ressaltou. Ele ainda frisou que, dessas várias linhas de investigação, nenhuma se sustentou quando as provas foram analisadas. "Um álibi de um não confirmava, uma versão não se sustentava, e assim foi. Em relação a alguns casos, a gente tinha uma suspeita pessoal, mais profunda, mais firme quanto a quem poderia ser o assassino e o que o teria levado a ser o assassino, a gente não tinha provas para avançar nessa linha", afirmou. Creste disse que entende o sentimento de familiares que questionaram as investigações, que duraram 12 anos, e a atuação da Polícia Civil e do Ministério Público do Estado de São Paulo. "É uma frustração que não tem como medir. É uma frustração que deve fazer com que essa dor que é enorme, grandiosa, nunca se apague, você não saber quem não matou seu filho, por que seu filho foi morto e, principalmente, saber que o assassino do seu filho sai impune. Todas as hipóteses na época foram levantadas e vistas, talvez um ou outro não tenha sido ouvido. Eu estou para dizer que o problema desse caso eram as mil e uma hipóteses que surgiram, nenhuma com carga probatória suficiente. Então, esse que é o grande problema. Mas, realmente, é uma dívida que o Estado tem não só com essa mãe, mas com a família de todas as outras vítimas", lamentou. Promotor de Justiça Marcelo Creste Reprodução 'Nossas falhas' Em sua carreira, Creste destacou que esse foi um caso que marcou. "Às vezes, eu me pego pensando nesse caso, as nossas falhas, onde foram as nossas falhas, o que poderia ter sido diferente. Todo mundo que acompanhou a investigação tinha uma certa suspeita. Eu mesmo tenho uma certa suspeita sobre o motivo e quem poderia ter sido, mas, como eu disse, são suspeitas, não tivemos provas disso e depois eu saí de lá. Mas é um caso que marca, volta a me chamar a atenção e uma certa frustração por não poder ter colaborado, porque é um caso que jamais poderia passar sem descobrir quem foram os assassinos, jamais", pontuou. Ele enfatizou que, mesmo que o inquérito tenha sido arquivado sem apontar os possíveis autores, não há crime perfeito. "O que às vezes você não consegue é, mesmo não sendo perfeito, você não consegue fazer uma linha de prova que se sustente", comentou. Depois de tanto tempo, o promotor falou que consegue ver o caso de outra forma. "Eram várias hipóteses, talvez a gente tenha se perdido em algumas hipóteses, dando importância a algumas hipóteses. Hoje, no presente, fica mais fácil para você analisar, medir e ter um olhar mais crítico sobre o passado. Mas foram várias hipóteses que foram levantadas e nenhuma a gente conseguiu, no tempo que eu fiquei, avançar com suficiência, com clareza e provas e uma linha de investigação que não desse dúvidas", complementou. Apesar do desfecho não desejado e da prescrição após esses 20 anos, para ele ficaram algumas lições também. "Você tem que ser mais crítico quando surge um caso com muitas hipóteses, você não pode deixar a gravidade do caso, o diferencial do caso tomar conta dele. É um caso de homicídio, tem que ter um motivo e qual o motivo mais próximo. Eu acho que, na verdade, tínhamos qual seria o motivo mais próximo, mas ele não tinha provas. Faltou isso, separar o joio do trigo e muitas hipóteses. Quando você tem um homicídio com mil e uma hipóteses, você tem que ficar afastando hipótese, acho que foi um dos empecilhos fazer isso, a chegar a um denominador comum", avaliou. Chacina em Teodoro Sampaio completa 20 anos em 2021 Reprodução/TV Fronteira Decepção e frustração Por fim, Marcelo Creste fez um "mea-culpa" e disse que vai levar em sua carreira o desfecho do assassinato dos cinco jovens. "Sinto, que por ser um crime que chocou aquela comunidade, um crime brutal, injusto com jovens que tinham toda a vida pela frente. Repito, jovens que não tinham nada de errado, não que isso justifique, mas eram jovens que tinham seus futuros, seus sonhos e foram mortos de uma forma brutal, covarde, injusta, e o assassino ou os assassinos saíram impunes. Para a gente que é promotor de Justiça, também é uma decepção assistir e trabalhar num caso desse. E a gente entende, não conseguimos medir e nem pensar a dor de uma mãe, de um pai, que perderam o filho nessas condições e ver a impunidade reinar. Na carreira, é aquele caso que nunca vai dormir em paz, lógico que nunca igual ao sentimento de uma mãe. Mas para mim, como promotor, é uma certa frustração esse caso ser encerrado dessa forma", declarou ao G1. Último promotor do caso O G1 procurou também o promotor de Justiça que atuou no caso na época do arquivamento, em 2013. Julio Cesar Michelucci Tanga, que hoje é magistrado do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJ-PR), informou que não possui mais acesso aos detalhes do procedimento com que teve "contato há muito tempo". "Não tenho condições, infelizmente, de dar entrevista nem de emitir nota sobre o caso", afirmou ao G1. Chacina em Teodoro Sampaio completa 20 anos em 2021 Reprodução/TV Fronteira VÍDEOS: Tudo sobre a região de Presidente Prudente Veja mais notícias em G1 Presidente Prudente e Região.
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