
Francisneide Alves Lacerda falou ao G1 sobre a falta que faz Wilson Alves da Silva. Mesmo depois de duas décadas, a dor continua presente na vida da família. "É o resto da vida lidando com a saudade", diz mãe de jovem vítima de chacina A mãe sempre espera ouvir o barulho da chave na fechadura e só dorme ao saber que o filho está em segurança. Quando esse som não vem, a vida torna-se uma eterna saudade. Assim tem sido a vida de Francisneide Alves Lacerda há 20 anos. Ela aguarda, todos os dias, pelo filho que nunca mais irá voltar. Dona Neide, como é carinhosamente chamada pelos familiares e amigos, é a mãe de Wilson Alves da Silva, que foi morto quando tinha 19 anos. O jovem foi uma das vítimas da chacina em Teodoro Sampaio (SP) que matou também outras quatro pessoas. O crime foi registrado em julho de 2001 e, após mais de 12 anos de investigação, o caso acabou arquivado pelo Poder Judiciário sem esclarecimento. Sem o filho e sem resposta, é assim que dona Neide seguiu ao longo de duas décadas e ainda segue. A saudade é constante, a ausência maltrata e a dúvida corrói. Com o passar dos dias, a dor se tornou amiga íntima, uma dor que o tempo não cura nunca. Dona Neide sofre todos os dias com a falta do filho Aline Costa/G1 “Conforme o tempo vai passando, a gente vai se acostumando com a dor, porque esquecer, não esquece jamais. Mas a gente tem que aprender a lidar com a dor. Então, eu tento aprender a lidar com essa dor todos os dias da minha vida. Ele vai estar sempre vivo na minha memória”, falou a mãe ao G1. Sem saber que seria a última vez que veria Wilson, dona Neide precisou levar o pai ao hospital e pediu que o filho não saísse de casa. O jovem calmo e obediente, como descreveu a mãe, naquela noite não escutou o conselho. “Nunca tinha me desobedecido assim para ficar fora de casa. Eu tinha ido para o hospital com o meu pai em [Presidente] Prudente [SP], meu pai não estava bem. E eu falei para ele: ‘Meu filho, eu estou indo levar seu avô em Prudente, então você não sai de casa, fica aqui de companhia com a sua avó, sua irmã, e não deixa seus irmãos sozinhos, porque eu não sei o que pode acontecer com meu pai e a gente precisa de alguém para estar avisando’. Aí ele me prometeu: ‘Não, mãe, tudo bem, não vou sair de casa, não’. Ele me abraçou, eu dei um beijo nele e fui", relembrou. Dona Neide sofre todos os dias com a falta do filho Aline Costa/G1 O pai de dona Neide não resistiu e faleceu. Wilson nunca soube da morte do avô. “Quando eu cheguei de Prudente, com o meu pai já falecido, eu procurei ele e não o encontrei. Foi o sepultamento do meu pai e eu preocupada porque ele não foi ao velório. Cheguei do velório, peguei minha bicicleta e fui até o pai do Carlos Henrique [outra vítima da chacina] para saber notícias dele, porque os dois eram muito amigos. Gostavam de jogar bola juntos, de correr, criaram até uma academia no fundo da casa para fazerem exercícios, então eles tinham muitos sonhos. Quando eu cheguei lá, o Carlinhos falou que os dois tinham saído no sábado à noite e não tinham voltado mais”, contou dona Neide ao G1. Tomada pela preocupação, Francisneide recebeu a notícia de que o filho havia sido encontrado. A comemoração durou pouco, pois, em seguida, a mãe soube que ele estava morto. “Ali eu já perdi o chão, já fiquei muito triste. Eles eram conhecidos, amigos na rua das meninas [vítimas da chacina]. Pra casa ele nunca tinha trazido elas. Não imaginava que eles estavam com mais alguém. Ele saiu escondido. Não falou para onde ia. Disse apenas que estava indo dar uma voltinha para a avó. Ele nunca me falou que tivesse inimigo nenhum, nunca”, lamentou a mãe. Dona Neide sofre todos os dias com a falta do filho Aline Costa/G1 Daquele dia em diante a vida de Neide mudou. Ela teve de aprender a conviver com a saudade diária do filho. Depois de mais de 12 anos de investigação, a mãe também precisou lidar com a falta de resposta sobre o que realmente tinha acontecido com o filho, pois as investigações foram arquivadas. “Eu fiquei sem entender, porque não existe crime perfeito. Todo crime se encontra quem foi, quem fez. Eu achei muito estranho. Como é que podem morrer cinco pessoas e ficar sem uma resposta? Até hoje fico me perguntando, porque para a Justiça eu cansei de perguntar”, disse ao G1. Diante de tamanha tragédia, a mãe não tinha outra escolha a não ser continuar a viver. Foi o que ela fez. Juntou toda a força que tinha e seguiu. O tempo passou e 20 anos depois, com tantas mudanças que teve em sua vida, ela ainda sofre com a falta de Wilson e com a dúvida do real motivo da chacina. “É muito triste. Muito triste. Ele era muito meu amigo, não era só um filho. Ela era meu amigo, era tudo para mim. Ele era uma pessoa muito útil, me ajudava em tudo, era como se fosse um pai para os irmãos. Não sei como ele pôde me desobedecer aquele dia. Não consigo entender. Não entendo até hoje esse tipo de crime, como que pode matar cinco pessoas assim, começando a vida. É o resto da vida lidando com a saudade”, pontuou ao G1. Dona Neide sofre todos os dias com a falta do filho Aline Costa/G1 Dona Neide sofre todos os dias com a falta do filho Aline Costa/G1 VÍDEOS: Tudo sobre a região de Presidente Prudente Veja mais notícias em G1 Presidente Prudente e Região.
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