Ferida que não cicatriza, chacina que matou cinco jovens em Teodoro Sampaio completa 20 anos sem esclarecimento


G1 publica série de reportagens especiais sobre o caso. Não se sabe quem foram os autores do crime nem por que as vítimas foram executadas. A indignação, o estarrecimento, a revolta, a incredulidade, a frustração, a insatisfação, o desapontamento, a decepção e a perplexidade sempre encontrarão lugar, em qualquer lembrança sobre a chacina, enquanto este ponto de interrogação ainda persistir em aberto, sem elucidação. Chacina de cinco jovens em Teodoro Sampaio completa 20 anos Uma dor que o tempo não cura, uma ferida que o transcorrer dos anos não cicatriza. Não tem remédio. Já são duas décadas que se completam sem que a chacina que vitimou cinco jovens, com idades entre 17 e 23 anos, na cidade de Teodoro Sampaio (SP), tenha um desfecho, uma solução, uma resposta. É um ponto de interrogação imenso cravado nos corações dos familiares das vítimas e das autoridades que trabalharam nas investigações do caso. Afinal, como pode terminar sem explicação um crime de tamanha brutalidade, com tantas vítimas, numa cidade, no extremo oeste do Estado de São Paulo, que à época possuía em torno de 20 mil habitantes, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)? Não se sabe quem foram os autores do crime nem por que as vítimas foram executadas. A indignação, o estarrecimento, a revolta, a incredulidade, a frustração, a insatisfação, o desapontamento, a decepção e a perplexidade sempre encontrarão lugar, em qualquer lembrança sobre a chacina, enquanto este ponto de interrogação ainda persistir em aberto, sem elucidação. Em uma série de reportagens especiais publicada nesta quinta-feira (1º), o G1 relembra os 20 anos do crime e mostra como a falta de esclarecimento da chacina ainda marca a vida de todas as pessoas que tomam conhecimento do caso. Veja no vídeo acima uma síntese do conteúdo da série jornalística. Vítimas da chacina em Teodoro Sampaio, da esquerda para a direita: Carlos Henrique de França, Jaqueline dos Santos Zacarias, Lucylene Medeiros de Souza, Lucicleide de Lima Souza e Wilson Alves da Silva Reprodução Pesadelo sem fim Na tarde do dia 3 de julho de 2001, os corpos dos cinco jovens foram encontrados na área de uma fazenda que fica nas imediações do Cemitério Municipal de Teodoro Sampaio, com marcas brutais de violência. Naquele momento, começava um pesadelo até hoje sem fim, sem explicação. As vítimas foram identificadas como: Lucylene Medeiros de Souza, de 23 anos; Jaqueline dos Santos Zacharias, de 20 anos; Lucicleide de Lima Souza, de 17 anos; Carlos Henrique de França, de 20 anos; e Wilson Alves da Silva, de 19 anos. Depois de mais de 12 anos de investigações, o caso foi arquivado pelo Poder Judiciário, sem nenhum autor indiciado, denunciado, julgado, condenado ou preso, em razão da falta de provas. Neste julho de 2021, conforme prevê a legislação em vigor no Brasil, o caso prescreve, ou seja, chega-se àquele momento em que ocorre a extinção da punibilidade, que se dá quando o Estado perde o direito de punir ou de executar uma pena imposta. No longínquo 2001, a cena do crime foi tomada por muitas pessoas quando os corpos foram encontrados. A dúvida sobre o motivo da chacina foi e ainda é a maior da história do município, que agora em 2021 tem uma população estimada pelo IBGE em mais de 23 mil habitantes. Muitas causas foram apontadas e investigadas, mas o caso não teve um desfecho. Atualmente, quando se toca no assunto, a falta de resposta sobre o caso ainda é a maior indignação. O “achismo” continua muito presente na vida dos moradores. A tragédia ainda traz à tona muitos sentimentos. A única certeza que a cidade carrega é a de que o crime jamais vai ser esquecido. Chacina em Teodoro Sampaio completa 20 anos em 2021 Reprodução/TV Fronteira Saudade e espera Aparecida de Fátima Pires de França, mãe de Carlos Henrique de França, um dos jovens mortos na chacina, precisou enfrentar a ausência diária do filho e também teve de aprender a lidar com a falta de resposta da Justiça. "Não tem como você esquecer do seu filho, principalmente com uma morte dessa, então, a gente vive com essa saudade, com essa tristeza, com esse pedaço faltando em você. É bem difícil. A gente espera, no nosso Deus, que acima de tudo e de todos, que Ele traga isso pra gente, eu tenho que confiar, eu tenho que acreditar, porque na Justiça infelizmente eu não tive êxito, mas eu acredito em Deus. Eu peço para Ele todos os dias para que eu não venha a morrer sem saber o que aconteceu e eu acredito que Ele vai me mostrar", desabafou Fátima ao G1. Diante de tamanha tragédia, Francisneide Alves Lacerda, mãe de Wilson Alves da Silva, ele também uma das vítimas da chacina, não tinha outra escolha a não ser continuar a viver. “É muito triste. Muito triste. Ele era muito meu amigo, não era só um filho. Ela era meu amigo, era tudo para mim. Ele era uma pessoa muito útil, me ajudava em tudo, era como se fosse um pai para os irmãos. Não sei como ele pôde me desobedecer aquele dia. Não consigo entender. Não entendo até hoje esse tipo de crime, como que pode matar cinco pessoas assim, começando a vida. É o resto da vida lidando com a saudade”, afirmou a mãe ao G1. Chacina em Teodoro Sampaio completa 20 anos em 2021 Reprodução/TV Fronteira Frustração e decepção Para as autoridades que trabalharam nas investigações sobre o caso, a frustração de não chegar a uma resposta, ao esclarecimento, persiste. O promotor de Justiça Marcelo Creste foi o primeiro membro do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP) a atuar no caso. Ele lembrou ao G1 que o crime chocou toda a comunidade local e ressaltou quais foram as dificuldades na apuração da chacina. "As dificuldades eram essas: eram jovens que não tinham qualquer antecedente criminal, ou seja, qual o motivo de uma eventual vingança, represália, o local ermo próximo ao cemitério, sem testemunhas, distância, sem também sinais que permitissem seguir algumas pistas. O que atrapalhou um pouco esse caso foram os acasos que foram surgindo, digamos assim. Um suspeito de Itaguajé [PR] que poderia ter participado e depois uma outra linha de investigação", explicou. Creste não era o promotor na época do arquivamento do caso, em 2013. Mesmo assim, ele salientou que a não resolução deste crime é uma frustração que carrega em sua carreira. "Para a gente que é promotor de Justiça, também é uma decepção assistir e trabalhar num caso desse. E a gente entende, não conseguimos medir e nem pensar a dor de uma mãe, de um pai, que perderam o filho nessas condições e ver a impunidade reinar. Na carreira, é aquele caso que nunca vai dormir em paz, lógico que nunca igual ao sentimento de uma mãe. Mas para mim, como promotor, é uma certa frustração esse caso ser encerrado dessa forma", admitiu. Após mais de 12 anos de investigações e sem a indicação dos possíveis autores das mortes, a Promotoria de Justiça pediu o arquivamento do caso. A decisão final foi do juiz Ricardo Cunha de Paula, que na época atuava na Comarca de Teodoro Sampaio, e teve a data de 24 de setembro de 2013. "O Promotor de Justiça requereu o arquivamento dos autos, com a ressalva do Art. 18, do C.P.P [Código de Processo Penal], pois mesmo com todas as diligências realizadas, infelizmente não se trouxe aos autos elemento de convicção com o mínimo de consistência para sustentar o prosseguimento de uma acusação com oferecimento de denúncia. É o que se verificou de concreto nos nove (09) volumes deste Inquérito Policial, não obstante o esforço da Polícia Judiciária. Portanto, acolho o requerimento retro e determino o arquivamento dos presentes autos pelo prazo legal", determinou o juiz. O caso até poderia ser reaberto, caso surgissem novas provas, com o prazo máximo de 20 anos. Em 2021, a morte dos cinco jovens completa duas décadas. Chacina em Teodoro Sampaio completa 20 anos em 2021 Reprodução/TV Fronteira ‘Noites sem dormir’ O G1 também conversou com um policial militar, já aposentado, que esteve no atendimento da ocorrência, e com o primeiro delegado da Polícia Civil a presidir as investigações, agora licenciado do cargo. Ambos relataram que o crime registrado em Teodoro Sampaio foi o que mais marcou as suas respectivas carreiras devido ao nível de crueldade na execução dos cinco jovens. “Infelizmente, devido ao lugar onde as vítimas estavam, que é um lugar ermo, nós tivemos muito poucos elementos pra iniciar a investigação, o que dificultou bastante o trabalho nosso”, declarou Luciano Carneiro de Paiva, agora secretário municipal de Segurança de Cabreúva (SP) e licenciado do cargo de delegado. “Lembro que fiquei muitas noites sem dormir, não só eu, como a equipe, tentando chegar a algum ponto que pudesse levar ao esclarecimento desse crime. A Polícia Civil trabalhou muito em cima desse caso, mas infelizmente não conseguimos elucidar”, disse Paiva. O caso acabou arquivado e gera frustração. “Nós, como investigadores, como profissionais da investigação, a gente sempre busca o melhor, conseguir chegar aos autores, e quando a gente não consegue, o que também não é uma coisa fora do comum, muitos crimes a gente não consegue chegar à autoria, a gente fica com um sentimento de frustração, é uma coisa normal do policial”, afirmou ao G1. À época soldado da Polícia Militar, Ricardo Aparecido Santos foi um dos militares que atuaram no atendimento da ocorrência, em 2001. Atualmente sargento da reserva, ele relatou ao G1 que, em 30 anos de serviço, este foi o caso mais marcante na sua carreira devido a tamanha violência. O sargento da reserva ainda declarou que os policiais são preparados para atender ocorrências no dia a dia e lidar com situações adversas. “Mas é uma coisa que marca e marcou na época, e continua marcando, porque não tem como você apagar isso da memória. Isso aí ficou marcado na minha vida, com certeza”, declarou Santos ao G1. “Cada vida daquela ali tem uma família e você vê uma situação daquelas e começa a refletir. ‘O que levou esses jovens a estarem ali?’, ‘O que levou a isso, de fato?’, e ‘Por que aconteceu isso com eles?’. E você começa a refletir como pessoa, no pessoal, você fala: ‘Nossa, tenho que mudar minha vida, fazer melhor na minha vida, fazer melhor na vida das pessoas que estão comigo, fazer melhor na vida da minha família’. Nós somos falhos, né? O ser humano é falho, tem que estar buscando a cada dia melhorar, e isso faz refletir bastante e fez refletir bastante”, encerrou. VÍDEOS: Tudo sobre a região de Presidente Prudente Veja mais notícias em G1 Presidente Prudente e Região.

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